Quinhentismo


     QUINHENTISMO



O Quinhentismo corresponde ao estilo literário que abrange todas as manifestações literárias produzidas no Brasil à época de seu descobrimento, durante o século XVI, correspondendo à introdução da cultura européia em terras brasileiras. É um movimento paralelo ao Classicismo português e possui idéias relacionadas ao renascimento, que vivias o seu auge na Europa. Ainda não se pode falar em literatura do Brasil aquela que reflete o cosmo visão do homem brasileiro, e sim numa literatura no Brasil, ou seja, uma literatura ligada ao Brasil, mas do homem europeu. A literatura do Quinhentismo tem como tema central os próprios objetivos da expansão marítima: a conquista material, na forma de literatura informativa das grandes navegações, e a contra-reforma e é representada pela literatura jesuítica da companhia de Jesus. Que é denota a cosmo visão, as ambições e as intenções.


    Manifestações literárias do Quinhentismo brasileiro


   Literatura informativa


A literatura informativa, também chamada de literatura dos viajantes ou dos cronistas, reflexo que é das Grandes Navegações, empenha-se em fazer um levantamento da “terra nova”, de sua flora e fauna, de sua gente. Daí ser uma literatura descritiva e, como tal, de valor literário relativo. No entanto seu valor histórico deve ser salientado, pois esses documentos são a única fonte de informação sobre o Brasil o século XVI. A principal característica dessa manifestação é a exaltação da terra nova, resultante do assombro do homem europeu, saído do mundo temperado, ao se defrontar com um mundo tropical, totalmente diferente, novo exótico. Com relação à linguagem, o louvor a terra transparece no uso exagerado de objetivo, quase sempre empregados no superlativo. É curioso perceber que essa exaltação foi a principal semente do sentimento que surgiu no século XVII, Elemento essencial nas primeiras manifestações contra a metrópole.

Os relatos da armada de Cabral foram elaborados pelo escrivão Pero Vaz de Caminha, o qual nasceu por volta de 1437, provavelmente na cidade do Porto; teve fim trágico na Índia (calecute), ainda no ano 1500, assassinado pelos mouros. Sua carta a El-Rei Dom Manuel sobre o acha mento do Brasil, além de inestimável valor histórico, é um trabalho de bom nível, literário. O texto da Carta mostra claramente o duplo objetivo que, segundo Caminha, Impulsionava os portugueses para as aventuras marítimas, isto é, a conquista dos bens materiais e a dilatação da fé cristã.

O relato de Pero Vaz De Caminha registra as impressões o primeiro contato. Por isso sua carta é considerada a “certidão de nascimento” do Brasil. Ela da inicio a uma serie de documentos semelhantes. Denominados em seu conjunto de literatura informativa sobre o Brasil, ou do trecho da carta de Pero Vaz de Caminha:


“A terra é muito graciosa,

Tão fértil eu nunca vi.

A gente vai passear,

No chão espeta um caniço,

No dia seguinte nasce

Bengala de castão de ouro.

Têm goiaba, melancias

Banana que nem chuchu.

Quanto aos bichos, têm-nos muitos,

De plumagens ate demais

Esmeraldas são para os trouxas.

Reforçai, senhor, a arca,

Cruzados não faltarão,

Vossa perna encarnareis,

Salvo o devido respeito.

Ficarei muito saudoso

Se for embora daqui. ”


Além dessas manifestações, é preciso chamar atenção para a literatura produzida pelos jesuítas. Em um trecho de sua carta, caminha solicita ao rei que envie gente para a terra descoberta, acrescentando: “não deixe logo de vir clérigo para batizá-los. Assim, chegam ao Brasil religioso para a catequese dos índios e para a educação dos colonos portugueses. Esses religiosos escrevem textos que, alem do caráter informativo sobre catequese, tinham finalidade pedagógica: cristianizar o índio e educá-lo segundo ao padrão europeu.

Com a vinda dos jesuítas, em 1549, começou o processo de catequese e educação no país. Tudo isso teve lugar numa sociedade cujas existências culturais eram mínimas. Mesmo os conhecimentos mais elementares transmitidos na escola dos jesuítas, escrever, ler, contar encontrava povos interessados, e todos pertencentes à classe dominante: Os senhores de escravos.


   Literatura jesuítica


Consequência da contra-reforma, a principal preocupação dos jesuítas e o trabalho de catequese, objetivo que determinou toda produção literária, tanto na poesia como no teatro. Mesmo assim, do ponto de vista estético, foi a melhor produção literária do Quinhentismo brasileiro. Além da poesia de devoção, os jesuítas cultivam o teatro de caráter pedagógico, inspirado em passagens bíblicas, e produziram documentos que informaram aos superiores na Europa o andamento dos trabalhos na Colônia.

José de Anchieta (o grande Piahy “supremo pajé branco”), como era chamado pelos índios, nasceram na ilha de Tenerife, Canárias, em 1534. Veio ao Brasil em 1553, fundando no ano seguinte um colégio em pleno planalto paulista, embrião da cidade de São Paulo. Faleceu no litoral do Espírito Santo na atual cidade de Anchieta, em 1597.

Anchieta nos legou, sempre como parte de um exaustivo trabalho de catequese: a primeira gramática do tupi-guarani, verdadeira cartilha para o ensino na língua dos nativos (Arte da gramática da língua mais usada na costa do Brasil); várias poesias, segundo a tradição do verso medieval (destaque para o “Poema à Virgem”); vários autos, também de natureza medieval, segundo o modelo deixado por Gil Vicente, misturado a moral religiosa católica aos costumes dos indígenas, coma a preocupação de caracterizar os extremos, como o bem e o mal, o anjo e o diabo.

Com base pelo que foi exposto anteriormente percebe-se que José de Anchieta se propôs a estudar a língua tupi-guarani, respeitando a cultura indígena, além disso, é considerado o precursor do teatro no Brasil.

“Fazendo das letras apenas um instrumento de catequese, Anchieta paga, como poeta, o pesado tributo dos que as sacrificam a outros fins que não elas mesmas. Sua literatura é mais religiosa que poética, se não for exclusivamente religiosa e nada poética. (Wilson Martins)

Vejamos a seguir trabalhos realizados pelo padre José de Anchieta:

Principais autos: Auto da Pregação Universal; Auto da festa de São Lourenço; na visitação de Santa Isabel. Inspiração medieval, nos mistérios e moralidades. Alegórico, segundo o modelo deixado por Gil Vicente, misturando a moral religiosa católica, segundo dos indígenas. A paradoxal modernidade desses autos rudimentares está na ativa participação da platéia e no espetáculo, por meio do canto e da dança (motivadores para a presença do índio). Não há unidade de ação ou de tempo. Os cenários eram a beira do mar, tendo como atores os próprios jesuítas, os colonos e os índios, não sendo admitida a presença de mulheres. Normalmente trilíngues (tupi, português e espanhol), eram peças escritas em verso que duravam de três a quatro horas de representação ate atingirem o clímax maniqueísta: a vitória dos bem, (normalmente personificado por anjos e santos) contra o mal (caracterizado pelo diabo ou pelos deuses da cultura indígena).

Principais poemas: De gentis Mendi de Saa; De Beata Virgine de Matre Maria (poema à Virgem). Influência da tradição do verso medieval, com o uso de versos curtos e redondilhas, além de uma visão teocêntrica do mundo, buscando no cotidiano e na dicção popular, boa parte das imagens que povoam sua obra. Seus versos expressam sua motivação mística e catequética e sua profunda devoção mariana. As mortificações do humano, o distanciamento dos prazeres terrenos, encontram consolação no amor divino, que contrapõe ao desengano da vida os valores positivos da esperança e da alegria, também presentes na poesia de Anchieta


  Outros autores e obras


·         Amadis de Grécia (1530), por Feliciano da Silva;

·         Cartas dos missionários jesuítas escritas nos dois primeiros séculos de catequese Florisando (1510), por Páez de Rivera;

·         Diálogo sobre a conversa dos gentios, por Padre Manoel de Nóbrega;

·         Florisel de Niquea (1532), por Feliciano da Silva;

·         Florisel de Niquea (1535 e 1551), por Feliciano da Silva;

·         História da Custódia do Brasil, por Frei Vicente de Salvador;

·         Lisuarte de Grécia (1514), por Feliciano da Silva;

·         Lisuarte de Grécia (1526), por Juan Diaz;

·         Narrativa Epistolar, por Padre Fernão Cardim;

·         Silves da La Selva (1546), por Feliciano da Silva.