ARCADISMO
O
arcadismo, setecentismo (a estética dos anos 1700) ou neoclassicismo é o período que caracteriza a segunda metade do
século XVII, tingido as artes de uma nova tonalidade burguesa. Vive-se agora, o
século das luzes, o iluminismo burguês, que prepara caminho
para a revolução francesa.
A
primeira metade do século XVIII marcou a decadência do pensamento barroco, para
a qual colaboraram vários fatores: a burguesia ascendente, voltada para as
questões mundanas, deixava em segundo plano a religiosidade que permeava o
pensamento barroco; além disso, o exagero da expressão barroca havia cansado o
público.
A
burguesia, tendo atingindo a hegemonia econômica passa a lutar pelo poder
político, ate então, mas mão da monarquia. Isso se reflete claramente no campo
social e artístico: a antiga arte cerimonial cortesão do lugar ao gosto burguês
no combate aos valores da monarquia, a burguesia cultua é ideal do “bom
selvagem” em oposição ao homem corrompido pela sociedade. Surgem então as
primeiras Arcádia, que procuram a pureza e a simplicidade das formas clássicas.
O
arcadismo tem espírito nitidamente reformista, pretendendo reformular o ensino,
os hábitos, as atitudes sociais, uma vez que é a manifestação artística de um
novo tempo e de uma mesma ideologia.
No
Brasil, considera-se como data inicial do arcadismo no ano de 1768, em que
ocorrem dois fatos marcantes: a fundação da Arcádia Ultramarina, em Vila Rica e
a publicação de obras, de Cláudio Manuel da Costa. A escola setecentista
desenvolve-se ate 1808, com suas medidas políticas administrativas, permite a
introdução do pensamento pré-romântico no Brasil.
Características
Bucolismo
O
modelo de vida ideal adotado pelos autores do período envolve a representação
idealizada na natureza com um espaço acolhidos, primeiramente, alegre. Os
poemas apresentam cenários em que a vida rural é sinônima de tranqüilidade e
harmonia.
.
Resgate
de temas clássicos
Na
origem da unitação dos clássicos gregos e latinos está a retomada de temas que
expressam algumas filosofias de vida características do mudo antigo. Esses
temas costumam ser identificados por expressões latinas, que resume a idéia
central por eles desenvolvida.
Os
mais conhecidos são:
·
.Áurea
mediocritas: mediocridade áurea;
simboliza a valorização coisas simples;
·
.Carpe
Diem: contar o dia; o mais
conhecido dos tempos desenvolvidos por Horácio trata da passagem do tempo como
algo que traz a velhice, fragilidade e a morte, tornando imperativo aproveitar
o movimento presente de modo intenso;
·
.Inutilia
truncat: cortar o inútil;
principio muito valorizado pelos poetas árcades, que se preocupavam em eliminar
os excessos, evitando qualquer uso mais elaborado da linguagem;
·
.Lócus
amoenus: lugor ameno;
traquilo, onde os amantes se encontram para desfrutar dos prazeres da natureza;
·
Sugere
urbem: fuga da cidade;
afirmação das qualidades da vida do campo.
Pastoralismo
Um
dos aspectos mais artificiais da estética árcade são o fato de os poetas e de
suas musas e amadas serem identificados como pastores e pastoras
A
troca dos nomes dos membros das Arcádia era uma forma eficiente de eliminar as
marcas de sua origem nobre ou plebéia.
Pseudônimos
Todos
os membros adotavam nomes de pastores e eram chamados por seus pseudônimos,
estabelecia-se entre eles uma espécie de nobre simplicidade, que eliminava tudo
aquilo que poderia ser associado à artificialidade e à hipocrisia da nula na
corte.
Linguagem:
simplicidade acima de tudo
O
arcadismo adota como missão combater a artificialidade verbal. Por isso, elege
a simplicidade como norma para a criação literária.
Comparação
das características do Arcadismo com o Barroco
ARCADISMO
|
BARROCO
|
Quanto ao conteúdo
|
|
Racionalismo
|
Conflito
entre o antropocentrismo e teocentrismo
|
Imitação
aos clássicos remanescentes
|
Restauração
da fé religiosa medieval
|
Temas
clássicos
|
Fugacidade
|
Busca
da clareza das idéias
|
Gosto
por raciocínios complexos
|
Pastorismo
e bucolismo
|
Morbidez
|
Universalismo
|
-
- -
|
Idéias
iluministas
|
Influência
da contra reforma
|
Quanto à forma
|
|
Vocabulário
simples
|
Vocabulário
culto
|
Idéias
diretas
|
Idéias
complexas e raras
|
Gosto
pelo soneto e versos decassílabos
|
Gosto
pelo soneto e versos decassílabos
|
Ausência
quase total de figuras de linguagem
|
Linguagem
figurada
|
Autores
árcades
Cláudio
Manoel da Costa (Glauceste Santírico)
Autores árcades
Cláudio Manoel da Costa (Glauceste Santírico)
Aos sessenta anos de idade foi envolvido na chamada
Conjuração Mineira. Detido e, para alguns, apavorado com as conseqüências da
acusação de réu de inconfidência, morreu em circunstâncias obscuras, em Vila
Rica, no dia 4 de julho de 1789, quando teria
cometido suicídio por enforcamento na prisão. Os registros da trajetória da vida de Cláudio
revelam uma bem sucedida carreira no campo político, literário e profissional. Foi secretário de
governo, poeta admirado até em Portugal e advogado dos principais negociantes
da capitania no seu tempo. Acumulou ampla fortuna e sua casa em Vila Rica, era uma das melhores vivendas da capital. Sólida e construção que ainda lá está há
desafiar o tempo.
A memória de Cláudio Manuel da
Costa, porém, não teve a mesma sorte. Até hoje paira sobre ele a suspeita de
ter sido um miserável covarde que traiu os amigos e se suicidou na prisão. Outros negam até a
própria relevância da sua participação na inconfidência mineira, pintando-o como um simples espectador privilegiado, amigo de Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto, freqüentadores
assíduos dos saraus que ele promovia.
Cláudio tentou ele próprio, diminuir a relevância
da sua participação na conspiração, mas estava apenas tentando reduzir o peso
da sua culpa diante dos juízes da
devassa. Os clássicos da historiografia da inconfidência
mineira são unânimes em valorizar sua participação no movimento. Parece que ele
era meio descrente com as chances militares da conspiração. Mas não deixou de
influenciar no lado mais intelectualizado do movimento, especialmente no que
diz respeito à construção do edifício jurídico projetado para a república que pretendiam
implantar em Minas Gerais, no final do século XVIII. De qualquer modo
José Pedro Machado Coelho Torres, juiz nomeado para a Devassa de 1789 em Minas Gerais, dele diz o seguinte: "O Dr.
Cláudio Manoel da Costa era o sujeito em casa de quem se tratou de algumas
coisas respeitantes à sublevação, uma das quais foi a respeito da bandeira e algumas
determinações do modo de se reger a República: o sócio vigário da vila de S. José é
quem declara nas perguntas formalmente"
Suas obras foram:
·
Culto Métrico, 1749;
·
Epicédio, 1753;
·
Munúsculo Métrico, 1751;
·
O Parnaso Obsequioso, 1768;
·
Obras (sonetos, epicédios, romances, éclogas, epístolas, liras), 1768;
·
Poesias Manuscritas, 1779;
·
Vila Rica, 1773.
Tomás Antônio Gonzaga (Dirceu)
Durante sua permanência
em Minas Gerais, escreve Cartas Chilenas, poema satírico em forma de epístolas, uma violenta crítica ao governo colonial. Promovido a desembargador da relação da Bahia em 1786, resolve pedir em casamento Maria Dorotéia dois anos depois. O casamento é marcado para o final do mês de maio de 1789. Como era pobre e bem mais
velho que ela, sofreu oposição da família da noiva.
Retrato do poeta
luso-brasileiro Tomás Antônio Gonzaga - feito com base em gravura do século XIX. Por seu papel na Inconfidência Mineira ou Conjuração Mineira (primeira grande revolta
pró-independência do Brasil), trabalhando junto de outros
personagens dessa revolta como: Cláudio Manoel da Costa, Silva Alvarenga e
Alvarenga Peixoto, é acusado de conspiração e preso em 1789, cumprindo sua pena de três
anos na Fortaleza da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, tendo seus bens confiscados.
Foi, portanto, separado de sua amada, Maria Dorotéia. Permanece em reclusão por
três anos, durante os quais, teria escrito a maior parte das liras atribuídas a
ele, pois não há registros de assinatura em qualquer uma de suas poesias. Em 1792, sua pena é comutada em
degredo, a pedido pessoal de Marília à rainha de Portugal e o poeta é enviado à
costa oriental da África, a fim de cumprir, em Moçambique, a sentença de dez
anos.
No mesmo ano é lançada
em Lisboa a primeira parte de Marília de Dirceu, com 33 liras (nota-se
que não houve participação, portanto, do poeta na edição desse conjunto de
liras, e até hoje não se sabe quem teria feito provavelmente irmãos de
maçonaria). No país africano trabalha como advogado e hospeda-se em casa de
abastado comerciante de escravos, vindo a se casar em 1793 com a filha dele, Juliana de Sousa Mascarenhas ("pessoa de muitos dotes e
poucas letras"), com quem teve dois filhos: Ana Mascarenhas Gonzaga, filha de dona Juliana anterior ao seu
casamento com Tomás Antônio Gonzaga, a quem este lhe seu nome, e Alexandre Mascarenhas Gonzaga, vivendo
depois disso, durante quinze anos, rico e considerado, até morrer em 1810, acometido por uma grave
doença. Em 1799, é publicada a segunda parte de Marília de Dirceu, com mais 65 liras.
No desterro, ocupou os cargos de procurador da Coroa e Fazenda, e o de juiz de
Alfândega de Moçambique (cargo que exercia quando morreu). Gonzaga foi muito
admirado por poetas Romantismo/românticos como Casimiro de Abreu e Castro
Alves. É patrono da cadeira de número 37 da Academia Brasileira de Letras.
Suas obras foram:
·
Marília de Dirceu (coleção de poesias líricas, publicadas em três
partes, em 1792, 1799 e 1812 - hoje se sabe que a terceira parte não foi escrita pelo poeta);
Santa Rita Durão
Durante o governo de Pombal, foi perseguido e abandonou Portugal. Trabalhou em Roma como bibliotecário durante mais de 20 anos, até a queda de
seu grande inimigo, retornando então ao país luso. Esteve ainda na Espanha e na França. Voltando a Portugal
com a "viradeira" (queda de Pombal e restauração da cultura
passadista), a sua principal atividade será a redação de Caramuru, publicado em 1781. Morre
em Portugal em 24 de janeiro de 1784.
Ao Brasil não voltaria mais, e sua epopéia é uma
forma de demonstrar que ainda tinha lembranças de sua terra natal.
Basílio de Gama
Em 1757, já órfão de pai,
começou a frequentar o Colégio dos Jesuítas no Rio de Janeiro. Quando, dois anos depois, em 1759, Gomes Freire de
Andrade, 1.º Conde de Bobadela, ordenou fechar o
colégio, como parte da campanha de perseguição movida pela Coroa de Portugal contra a Companhia de Jesus, o jovem Basílio manteve-se fiel à sua vocação e seguiu
para Roma, à procura do apoio
da Igreja para a sua fé.
Entre os anos de 1760 e 1766, foi admitido, graças
ao poeta Michel Giuseppe Morei na Arcádia Romana, com o pseudônimo de
"Termindo Sipilio". O fato de um poeta da Colônia ter sido admitido em
uma agremiação tão importante quanto a Arcádia Romana pressupõe que, quase
certamente, ele teria sido recomendado pelo clero jesuítico português.
No decorrer de 1768, está de novo no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, mas
retorna à Europa, dirigindo-se para Coimbra. Nesta ocasião foi detido em Lisboa, acusado de simpatia para com os jesuítas. Em troca da
liberdade, prometeu às autoridades ir viver em Angola. Logo em seguida, buscando evitar o degredo, capitulou
diante do poder exercido pelo futuro Marquês de Pombal, responsável direto
pela perseguição aos jesuítas.
Basílio escreveu então um epitálamo, dedicado à filha do
Marquês, exaltando-o, vindo a cair, em 1769, nas graças deste. No mesmo ano foi publicado poema épico
"O Uruguai", dedicado a Francisco Xavier de
Mendonça Furtado, irmão de Pombal,
onde se percebe o intuito de agradar o homem forte de Portugal daquele tempo.
Além dos guerreiros portugueses, os Guaranis são tratados de
maneira positiva pelo autor, cabendo unicamente aos jesuítas o papel de vilões,
por serem contrários à política pombalina, retratados como interessados em
ludibriar os indígenas.
Por essa época estreita-se a sua ligação com
Pombal, de forma que se torna oficial administrativo e secretário deste. Com a
queda política de seu protetor, Basílio passou a sofrer perseguições políticas,
sendo obrigado a se deslocar da Corte para a Colônia do Brasil e vice-versa,
como forma de se livrar de arbitrariedades cometidas contra si.
Num período em que estava em Lisboa veio a falecer,
em 31 de julho de 1795, tendo sido sepultado na Igreja da Boa Hora.
Suas obras foram:
·
A declamação trágica (1772), poema dedicado às belas artes;
·
A declamação trágica (1820);
·
Epitálamo às núpcias da Sra. D. Maria Amália (1769);
·
Os Campos Elíseos (1776);
·
Quitúbia (1791);
·
Relação abreviada da República e Lenitivo da saudade (1788).