Barroco foi o nome dado ao estilo artístico que
floresceu na Europa, na América e em alguns pontos do oriente entre o inicio do
século XVII e meados do século XVIII. De certa forma o barroco foi uma
continuação natural do renascimento, porque ambos os movimentos compartilharam
de um profundo interesse pela arte da antiguidade clássica, coma a diferença de
a interpretarem e expressarem esse interesse de formas distintas. Enquanto que
no renascimento as qualidades de moderação, econômica formal, austeridade,
equilíbrio e harmonia eram as mais buscadas, o tratamento barroco de temas
idênticos mostrava maior dinamismo, contrates mais fortes, maior dramaticidade,
exuberância e realismo e uma tendência ao decorativo, além de manifestar uma
tensão entre o gosto pela materialidade opulenta e as demandas de uma vida
espiritual. Mas nem sempre estas características são evidentes ou se apresentam
todas ao mesmo tempo, houve uma grande variedade de abordagens estilísticas que
foram englobadas sob a denominação genérica de “arte barroca”, com certas
escolas mais próximas do classicismo renascentista e outras mais afastadas
dele. As mudanças introduzidas pelo espírito barroco se originaram, pois, de um
profundo respeito pelas conquistas das gerações anteriores, e de um desejo de
superá-las com a criação de obras originais, dentro de um contexto social e
cultural que já se havia modificado profundamente em relação ao período
anterior.
O termo “barroco” advém da palavra portuguesa
homônima que significa “pérola imperfeita.” O barroco nasceu na Itália, que
desde o renascimento se tornara o maior pólo de atração de artistas em toda a Europa
e o maior centro irradiador de influência. A eclosão da no mesmo período do
surgimento da arte barroca houve a reforma protestante que foi um evento
dramático, pondo um fim à unidade do Cristianismo e à primazia do Papado
Romano, mas logo em seguida a igreja católica reorganizou suas forças lançando
a contra reforma, numa tentativa de refrear a evasão de fiéis para o lado
protestante e a pedra de influência política da igreja. Ao mesmo tempo, tentou
com ela moralizar os hábitos corruptos e materializados do clero, estabelecendo
uma nova abordagem do conceito de Deus.
Embora tenha o barroco assumido diversas
característica ao longo da historia, seu surgimento está intimamente ligado a
contra-reforma, a qual serviu de enorme influência na determinação dos rumos
estéticos e ideológicos seguidos pela arte católica, estendendo sua presença
para a America e o oriente através de suas numerosas missões de evangelização.
A orientação da igreja agora era na direção de se produzir uma arte que pudesse
propagar o catolicismo, apelando para p sensacionalismo e uma emocional idade
intensa. O estilo produzido por este programa se provou desde logo paradoxal:
pregava a fé, mas usava de todos os meios para a sensibilidade sensorial do
publico, era ao mesmo tempo um estilo fortemente sensual e espiritual. O teatro
também foi utilizado para acentuar o apelo emotivo e estimular a piedade e a
devoção dos fiéis. São especialmente ilustrativos os grandes painéis pintados
nos tetos nas igrejas católicas nesse período, que aparentemente dissolvem a
arquitetura e se abrem para visões sublimes do paraíso, povoado de santos,
anjos e do Cristo. Inspirado pelo movimento contra-reformista, o florescimento
da pintura de paisagem durante o barroco foi um reflexo de novos descobrimentos.
Características
O fusionismo
O tempo se refere à função das visões medieval e
renascentista, antagônicas. Essa fusão se traduz, na pintura, pela mistura
entre luz e sombra; na música pela combinação de sons, na literatura, pela
associação entre o racional e o irracional, entre a razão e a fé. A busca
incessante da união dos opostos leva os escritores barrocos ao uso intenso de
duas figuras de linguagem que criam esse efeito de sentido: as antíteses e os
paradoxos.
O culto do contraste
Como conseqüência da dualidade na maneira de ver o
mundo e interpretar as coisas, o barroco tende a aproximar os opostos,
destacando o contrates, ao mesmo tempo em que tenta conciliar extremos como
carne/ espírito, pecado/ perdão, céu/ terra, erotismo/espiritualidade.
O pessimismo
A religiosidade acentuada pelas disputas entre
protestantes e católicos emprestou um caráter mais dramático à vida o século
XVII. Dividido entre razão e religião, o ser humano prefere a religião na
esperança de compartilhar a gloria divina.
Em muitos textos e outras manifestações artísticas
um olhar mais pessimista para o mundo sobressai. Pois, a vida terrena é
caracterizada por traços que sugerem tristeza e sofrimento, para representá-la
como aposto à felicidade e a gloria da vida celestial
O feísmo
Manifestando o pessimismo dos autores, várias obras
barrocas explicam a miséria da condição humana, apresentado em alguns aspectos
cruéis, dolorosos e muitas vezes repugnantes.
O rebuscamento
O artista barroco é minucioso na composição dos detalhes
e manifesta o gesto pela ornamentação excessiva que cria um efeito de
suntuosidade nas obras do período e revela o desejo de criar um discurso para
convencer o publico da glória de Deus.
A utilização de uma linguagem trabalhada, cheia de
imagens e de figuras, procura dar à literatura a riqueza visual da pintura e da
escultura. Isso faz com que os povos de palavras e as figuras de linguagem
sejam muitos explorados nos textos desses períodos.
Dinamismo e Teatralidade
O artista barroco deseja criar sensação de
movimento, que representa a instabilidade do período. As linhas curvas
utilizadas na pintura opõem-se claramente às retas que orientaram a arte
renascentista. Os traços mais realistas dão as obras de arte um caráter
exagerado, teatral, destinado a chocar o observador.
Reflexão sobre a fragilidade humana
A leitura dos principais poetas clássicos
influência a escolha dos temas mais recorrentes na poesia barroca. Vários
textos abordam a fragilidade da vida humana, a fugacidade do tempo, a crítica a
vaidade, as contradições do amor.
O desejo de produzir textos muitos elaborados,
contudo, faz com que a escolha dos temas tenha menos importância do que o
trabalho com a linguagem.
Linguagem: agudeza e engenho
Os autores produziam seus textos com agudeza e com
um engenho que promoviam as suas idéias associadas.
Estilos Barrocos
Cultismo
É caracterizado pela linguagem rebuscada, culta,
extravagante, pela valorização do pormenor mediante jogos de palavras, com
visível influência do poeta espanhol Luiz de Gôngara; daí o estilo ser também
conhecido por Gongorismo.
Conceptismo
É mascado pelo jogo de idéia, de conceitos, segundo
um raciocínio lógico, racionalista, que utiliza uma retórica aprimorada. Um dos
principais cultores do Conceptismo foi o espanhol, Quevedo, do qual deriva o
termo Quevedismo.
O Barroco no Brasil
Mesmo considerando o Barroco o primeiro estilo de
época a literatura brasileira e Gregório de Matos o primeiro poeta efetivamente
brasileiro, com sentimento nativista, na realidade ainda não se pode isolar a
colônia da metrópole.
Além disso, os dois principais autores- Padre
Antônia Viera e Gregório de Matos tiveram suas vidas divididas entra Portugal e
Brasil.
No Brasil, o Barroco tem marco inicial em 1601 com
a publicação do poema épico Prosopopéia, de Bento Teixeira, que introduz
definitivamente o modelo da poesia camoniana em nossa literatura. Estende-se
por todo o século XVII e início do século XVIII. O final do Barroco brasileiro
só se concretizará em 1768, com a publicação do livro Obras, de Cláudio Manuel
da Costa.
Contexto histórico
Os fatos históricos fundamentais da época foram a
primeira invasão holandesa, que ocorreu na Bahia, em 1624, e a segunda, em
Pernambuco, em 1630, quem perdurou até 1654.
As invasões aconteceram na região que concentrava a
produção açucareira.
A produção literária não foi favorecida nesse
período, pois a disputa pelo poder no Brasil era evidente e chamava toda a
atenção.
O barroco surgiu nesse contexto como fruto de
esforços individuais, quando os modelos literários portugueses chegaram ao
Brasil.
A arte que se desenvolveu com mais força foi a
arquitetura, mas a partir da segunda metade do século as artes sofreram impulso
maior.
Os autores Barrocos
·
Bento Teixeira;
·
Botelho de Oliveira;
·
Frei Manuel da Santa
Maria Itaparica;
·
Gregório de Matos (na
poesia);
·
Gregório de Matos (na
poesia);
·
Nuno Marques Pereira;
·
Pe. Vieira (na prosa);
·
Sebastião da Rocha
Pita.
Os autores Barrocos que mais se destacam
Gregório de Matos (1633-1696)
Nascido na Bahia, provavelmente a 20 de dezembro de
1633, Gregório de Matos firma-se como o primeiro poeta brasileiro. Após os
primeiros estudos no colégio dos jesuítas, vai para Coimbra, onde se gradua em
direito, formado, vive alguns anos em Lisboa, onde exerce a profissão. Por suas
sátiras, é obrigado a retornar à Bahia; em sua terra natal, é convidado a
trabalhar com os jesuítas, exercendo o cargo de tesoureiro, mor da companhia de
Jesus. Ainda por suas sátiras, é segregado para Angola. Já bastante doente,
retorna ao Brasil, mas sob duas condições: estava proibido de pisar em terras
baianas e de apresentar suas sátiras. Morre em Recife, provavelmente em janeiro
de 1696.
Apesar de ser conhecida como poeta satírico- daí o
apelido “boca do inferno”-, Gregório também praticou e com esmero, a poesia
religiosa e a lírica. Cultivou tanto o estilo cultista como o conceptista,
apresentando jogos de palavra ao lado de raciocínios sutis, sempre com o uso
obusivo de figuras de figuras de linguagem.
Na primeira satírica Gregório procurava esticar o
brasileiro, o administrador português, El-Rei, o clero e, numa postura
moralista os costumes da sociedade baiana do século XVII, é patente um
sentimento nativista quando ele separa o que é brasileiro do que é exploração
lusitana.
Na poesia lírica e na religiosa, transparece certo
idealismo renascentista, bem como o conflito entre o pecado e o perdão: busca a
pureza da fé, mas ao mesmo tempo precisa viver a vida mundana. São essas
contradições que situam perfeitamente na escola barroca.
Suas obras permaneceram inéditas ate o século XX,
quando a academia brasileira de letras, entre 1923 e 1933. Publicou seis
volumes, assim distribuídos: I-Poesia
sacra; II- Poesia lírica; III- Poesia graciosa; IV e V- Poesia satírica; VI- Poesia
étimos.
Padre Antônio Vieira
Foi um religioso, escritor e orador português da
companhia de Jesus. Um dos mais influentes personagens do século XVII em termos
de política destacou-se como missionário em terras brasileiras, esta qualidade
defendeu infatigavelmente os direitos humanos dos povos indígenas combatendo a
sua exploração e escravidão. Era por eles chamado de “Paiáçu” (Grande padre/
pai, em tupi).
Antônio Vieira também defendeu os judeus, a
abolição da distinção entre cristãos-novos (judeus convertidos, perseguidos a
época pela inquisição) e cristãos mais velhos (os católicos tradicionais), e a
abolição da escravatura. Criticou ainda severamente os sacerdotes da sua época
e a própria inquisição. Na literatura, seus sermões possuem considerável
importância no barroco brasileiro e português. As universidades frequentemente
exigem sua leitura.
Passou grande parte de sua vida no Brasil; aos
quinze anos entrou para companhia de Jesus. Escreveu 15 volumes de sermões e
inúmeras cartas (mais de 500). Em 1640, notabilizou-se pelo sermão pelo bom
sucesso das armas de Portugal conta os de Holanda, em que o autor coloca Deus
como árbitro na luta entre portugueses e holandeses. Nesse sermão, Vieira
mostra sua preocupação com os problemas sociais da Colônia.
Em 1652, Padre Vieira está em São Luís do Maranhão,
onde se ocupa da catequese dos índios. Escreve os Sermões de Santo Antônia dos Peixes, no qual ridiculariza, por meio de
categorias e comparações, os vícios dos colonos. Perseguido pelo tribunal
inquisitorial, por pregar tolerância religiosa e divulgar idéias do Quinto Império ao mundo, é encarcerado e
impedido de pregar.
Como orador foi notável, como clássico primoroso; e
como missionário incomparável. No Brasil, defendeu a liberdade dos judeus. Foi
um autêntico mestre da língua pela firmeza e propriedade do léxico, pela
musicalidade que da aos seus sermões.
A obra de Vieira divide-se em:
·
Profecias: Obra de
cunho nacionalista, em que acredita nas futuras glórias de Portugal,
baseando-se na bíblia, nessa obra, Vieira afirma sua crença no batismo;
·
Cartas: Nelas Vieira
defende os judeus convertidos ao cristianismo (cristão-novos), vitimas de todo
tipo de perseguições através da inquisição;
·
Sermões: (cerca de
200). Sua obra máxima. Criticando ocultismo, Vieira utiliza-se de raciocínios
claros e bem elaborados, abordando vários temas. A necessidade de pregar a
palavra de Deus para que ela dê bons frutos, A escravização dos indígenas,
devido à ambição dos senhores de engenho, invasões holandesas e o desejo de
vitorias dos portugueses. Padre Vieira, grande clássico nos sermões e nas
cartas, foi também gongórico (embota tenha criticado o gongorismo, por abusar das
antíteses, dos trocadilhos, das hipérboles.
Arquitetura, escultura e pintura Barroca
Aleijadinho
Profeta Daniel (pedra sabão)
Santuário de Bom Jesus de
Matosinhos (Congonhas-MG)
Aleijadinho (Antônio
Francisco Lisboa) nasceu em Vila Rica no ano de 1730 (não há registros oficiais
sobre esta data). Era filho de uma escrava com um mestre-de-obras português.
Iniciou sua vida artística ainda na infância, observando o trabalho de seu pai
que também era entalhador.
Por volta de 40 anos de
idade, começa a desenvolver uma doença degenerativa nas articulações. Não se
sabe exatamente qual foi a doença, mas provavelmente pode ter sido hanseníase
ou alguma doença reumática. Aos poucos, foi perdendo os movimentos dos pés e mãos.
Pedia a um ajudante para amarrar as ferramentas em seus punhos para poder
esculpir e entalhar. Demonstra um esforço fora do comum para continuar com sua
arte. Mesmo com todas as limitações, continua trabalhando na construção de
igrejas e altares nas cidades de Minas Gerais.
Na fase anterior a
doença, suas obras são marcadas pelo equilíbrio, harmonia e serenidade. São
desta época a Igreja São Francisco de Assis, Igreja Nossa Senhora das
Mercês e Perdões (as duas na cidade de Ouro Preto).
Já com a doença,
Aleijadinho começa a dar um tom mais expressionista às suas obras de arte. São deste período o conjunto
de esculturas Os Passos da Paixão e Os Doze Profetas, da Igreja de Bom Jesus de
Matosinhos, na cidade de Congonhas do Campo. O trabalho artístico formado por
66 imagens religiosas esculpidas em madeira e 12 feitas de pedra-sabão, é
considerado um dos mais importantes e representativos do barroco brasileiro.
· A obra de Aleijadinho
Santuário de Bom Jesus de Matosinhos (Congonhas-MG)
A obra de Aleijadinho
mistura diversos estilos do barroco. Em suas esculturas estão presentes
características do rococó e dos estilos clássico e gótico. Utilizou como
material de suas obras de arte, principalmente a pedra-sabão,
matéria-prima brasileira. A madeira também foi utilizada pelo artista.
Morreu pobre, doente e
abandonado na cidade de Ouro Preto no ano de 1814 (ano provável). O conjunto de
sua obra foi reconhecido como muitos importantes anos depois. Atualmente,
Aleijadinho é considerado o mais importante artista plástico do barroco mineiro.
Ataíde
Nossa Senhora cercada de anjos músicos
Manuel da Costa Ataíde, mais conhecido como Mestre
Ataíde, (Mariana, 18 de outubro de 1762 – idem, 2 de fevereiro de 1830), foi um pintor, dourador, encanador,
entalhador e professor brasileiro.
Foi um importante artista do barroco mineiro e teve uma grande influência sobre os pintores da sua
região, através de numerosos alunos e seguidores, os quais, até a metade do século XIX, continuaram a fazer uso de seu método de composição,
particularmente em trabalhos de perspectiva no teto de igrejas. Documentos da época
fazem freqüentemente referências a ele como professor de pintura. Em 1818, Ataíde tentou, sem
sucesso, obter permissão oficial para fundar uma escola de arte em Mariana, sua
cidade natal.
No inventário de suas posses relacionam-se manuais
técnicos e tratados teóricos como o de Andrea Pozzo - "Perspectivae
Pictorum Architectorum" -, nos quais
deve ter estudado a sua arte. Uma das características da sua expressão era
artística era o emprego de cores vivas, principalmente o azul, a sua preferida.
Em seus desenhos, os anjos, as madonas e os santos apresentam traços de povos
africanos.
Foi contemporâneo e parceiro de Antônio Francisco
Lisboa, o Aleijadinho. No período de 1781 a 1818, encarnou e dourou as
imagens de Aleijadinho para o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo.
Obras:
Pintura da Capela de Nossa Senhora da Glória por volta de 1742,
localizada na comunidade da Ressaca, pertencente a Carandaí, Minas Gerais.
Pinturas na Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, realizadas entre 1801 e 1812, sendo a
"Glorificação da Virgem", pintada sobre madeira no teto da nave principal, o seu
trabalho mais conhecido;
Pinturas do forro da capela-mor da Igreja Matriz de
Santo Antônio, na cidade de Santa Bárbara, realizadas em 1806;
Pintura do forro da capela-mor da Igreja Matriz de
Santo Antônio, na cidade de Itaverava, realizada em 1811;
Pintura do forro da capela-mor da Igreja de Nossa
Senhora do Rosário, em Mariana, realizada
em 1823.